Tempo Roubado, Futuro Comprometido

O que acontece quando o tempo, o recurso mais precioso da educação, é roubado?

Um estudo da OCDE, com dados brasileiros obtidos pelo Inep, lança luz sobre uma realidade alarmante: professores no Brasil perdem, em média, 21% do seu tempo de aula para manter a disciplina. Isso significa que, a cada cinco horas dedicadas ao ensino, uma inteira se esvai em um esforço para conter o caos.

Esse não é um problema isolado, mas o sintoma de um sistema em crise que afeta o aprendizado e minha alma do ofício docente.

A indisciplina, que se manifesta como interrupções constantes, não é apenas um passageiro incômodo. Ela é um obstáculo direto ao processo pedagógico.

Quando a atenção dos alunos se dispersa, a transmissão de conhecimento é prejudicada, o ritmo da turma desacelera e o desempenho acadêmico, ocorre, cai. Os alunos que mais necessitam de um ambiente de aprendizagem seguro e focado são os mais penalizados, perpetuando ciclos de baixo rendimento e, em casos extremos, de evasão escolar. O professor, em meio a essa batalha, vê sua missão de educar ser renovada por uma luta exaustiva para manter a ordem.

E o que acontece com a motivação de quem está à frente da sala de aula? O professor entra na carreira com uma nobre aspiração de transformar vidas. No entanto, ele se depara com uma realidade de sobrecarga, em que se torna, simultaneamente, psicólogo, mediador de conflitos e, por vezes, um fiscal.

Uma pesquisa revela que 21% dos docentes brasileiros consideram seu trabalho muito estressante. Isso não é por acaso. O esforço contínuo para manter a disciplina, somado à falta de valorização social – percebido por apenas 14% da categoria – destruiu a paixão e a saúde. O impacto é real e mensurável: a docência relativa a qualidades de saúde mental de 16% dos professores, acima da média da OCDE.

Para quebrar esse ciclo de desvalorização e esgotamento, a sociedade precisa agir. A não solução está apenas nas mais leis ou em culpar a escola, a família ou o aluno. O caminho é o reconhecimento. É preciso entender que a educação é uma responsabilidade compartilhada e que o professor, sozinho, não pode resolver todos os problemas sociais que chegam à sala de aula.

É urgente fortalecer a parceria entre família e escola, investir em políticas públicas que garantam um ambiente de trabalho seguro e acolhedor e, principalmente, devolver ao professor o seu tempo: o tempo de ensinar, de inspirar e de cumprir sua missão. Só assim poderemos restaurar o potencial de nossas salas de aula e construir um futuro mais promissor para todos.